Dienstag, Dezember 10, 2002

CÍRCULO VICIOSO

Um cara acorda de ovo virado. Está completamente puto da cara com tudo. Briga com a torradeira, com o chuveiro e sai sem café porque a torradeira é sentimental. Depois de mandar o motorista, o cobrador e um passageiro visitarem a terra das mães da zona, chegou no trabalho. Como todos os dias infelizes antes daquele. Tem um problema muito grande, gerado na noite anterior, que o deixou extremamente triste. E esse é seu modo de explodir isso para o mundo. E é desse modo que ele rebate um adorável "Oi, Geovani!" da linda secretária do patrão.

A garota é sensível. Ela é uma espécie de esponja, como chamamos. E fica muito triste com o modo gentilíssimo que o rapaz usou com ela. E isso desperta nela sentimenotos há muito esquecidos de rejeição - desde o não do pai quando ela queria aquela boneca, a olhada fria e repreensiva de seu gato predileto e, é claro, o namoradinho aquele que enganou ela nos tempos de primário. E foi com esse ânimo que ela foi encontrar o rapaz que ela conheceu na discoteca, duas noites atrás.

O cara não conhecia a garota. E sentiu, com a mais absoluta certeza, que o culpado daquilo tudo era ele. Como por sinal, tudo o que acontece na sua vida. Mais uma vez ele deixava aquela oportunidade de ouro, aquela garota simpática da outra noite, passar pelo meio de seus dedos. Ela não seria mais a mãe de seus filhos, aquele novo encontro estava completamente descartado e o smoking da cerimônia matrimonial ia ficar mesmo na vitrine. O strogonoff estava simplesmente sem gosto, o molho frio, e o estômago doendo, tudo por causa dos olhos da menina.

Foi por isso que a mãe do rapaz não dormiu naquela noite. Tinha ficado esperando acordada em casa a volta do seu queridinho. Estava orgulhosa do rapaz. Afinal ele estava tão empolgado! Difícil seria reconhecer - se não fosse mãe dele, óbvio, que conhece o filho como a palma de sua mão - aquele espectro que chegou, comeu uma banana, escovou os dentes e se atirou na cama, barriga para cima, olhando como se o ventilador fosse a coisa mais enigmática da história. Ela sentiu a dor do garoto multiplicada pela dor do parto e teve olheiras. E mães sempre se entristecem fácil.

E assim foi. Deve até ter chegado em ti. E se isso aconteceu, vê se dá um basta; dá um sorriso. É o único jeito.