Mittwoch, Juli 31, 2002

AUTO ANÁLISE

Me mandaram um e-mail. O nome é auto análise. Desses html, onde vem perguntas e tu responde com letras. Provavelmente trazido de alguma antiga civilização bárbara que costumava fazer levantes em cidades grandes após dedicar cerimônias homéricas a seus deuses. E uma delas deveria ser a adivinhação. Claro que esse conceito, que deveria ser apenas uma arma guerreira, acabou sendo transformado em remédio para solteironas, resposta para os deprimidos e esperança para os jogadores. E perduraram até os meios eletrônicos, sobrevivendo a tudo e todos e entrando na minha caixa postal.

Existe algo de muito difícil para mim nesses e-mails. Além de tratar semrpe das mesmas coisas, sempre dão as mesmas respostas. Nesse caso, a primeira pergunta era qual meu animal favorito. Por que nunca escolhem o tamanduá bandeira, o urubú rei ou o dingo australiano? Opções ortodoxas apareceram na tela, como gato, pássaro e cahorro. Entre eles, gosto dos canídeos. Os felinos são muito dominadores. E pássaros são muito cagões (em todos os sentidos). Os canídeos são divertidos e procuram sempre alegrar a gente de alguma forma. Mas tem que ser um de grande porte, os pintchers, por exemplo, são muito barulhentos e espoletas. Um saco.

Como todo o bom teste, foi me perguntado a cor predileta. O que me fez lembrar Monthy Phyton and The Holly Cup, onde um dos cavaleiros da távola esqueceu qual era sua cor preferida e foi arremessado ao abismo. As cores escolhidas são rosa, branco e preto. Não que eu tenha algum preconceito, mas rosa não combina com as minhas saias. Branco suja muito. Sobrou o preto. E eu que nem sou panque nem nada.

Depois nomes de pessoas, mesmo sexo e sexo oposto. Pressenti no momento o que queriam. O nome da pessoa do mesmo sexo ia ser o meu melhor amigo, o do sexo oposto, meu grande amor. O primeiro sempre varia de teste para teste. Eu não consigo escolher quem vai ser meu melhor amigo. Coloquei alguém importante hoje e segui. Mas acho preconceito, minha melhor amiga é mulher (aplausos!). E eu poderia ser apaixonado por um homem, quem sabe? Mas como se trata de uma tradição celta, provavelmente, coloquei o nome padrão do campo feminino e segui.

Parti para o chavão da seqüência: montanha ou praia. Eu queria uma casa na montanha, na beira da praia. Como em Santa Catarina. Mas só que a praia tinha que proporcionar um lindo por do sol, como as praias pacíficas. As atlânticas apresentam apenas seus amanheceres que eternamente gritarão para mim "vai dormir, vagabundo, sai da noite!". Resposta para essa, alternativa M, de montanhas. E na próxima, que pergunta amanhecer ou anoitecer, fico com o anoitecer, pelos motivos citados acima.

Ainda perguntam se eu prefiro rosas, samambaias ou plantas artificiais. Eu prefiro rosas. São muito belas, em suas roseiras, molhadas de sereno. E, de quebra, vem ainda uma questão sobre estações do ano. Eu sou maníaco por inverno, meu nariz cheio de coriza, muitos edredons e aquele frio desgraçado que aumenta a gravidade em torno da cama. Sou masoquista, nas horas vagas. Só para citar.

Para finalizar, um número. É óbvio que eu tenho que fazer o favor para meus netos de não deixar essa corrente morrer. Assim, o deus gaulês para quem essa corrente foi dedicada pede para que distribua, como uma troca de favores, camaradagem. Ou faz, ou fica sem teus pedidos, que é o que se pergunta a seguir. Nunca peço nada, para não ter maneira de decepcionar a divindade. Mas fazer o quê, nunca me ocorre nada mesmo.

Bom, minha auto análise disse tudo que eu já sabia. Então, renomeei como "Consultoria Sentimental" e encaminhei para meus amigos.

Sonntag, Juli 21, 2002

Sabe que nunca te esqueci. Só tenho medo de que tenha esmorecido aquilo que um dia eu senti. Talvez não exista mais um tempo que possamos conjugar em primeira pessoa do plural. Pode ser que não exista mais uma constelação que brilhe ao teu sorriso. Eu tenho quase certeza que vivo demais do passado, num vai e vem frenético de coisas que perderam o sentido em alguma distração do cronômetro. Quero que o brilho dos momentos sejam eternos, mas acabo esquecendo que tenho o hoje para viver. E não dá para viver o hoje mais do que vinte e quatro horas, senão ele vira amanhã e volto a viver de passado.

Um dia pensamos em inventar um botãozinho para desligar o mundo ao nosso redor. Acho que eu deveria ter passado mais tempo não me preocupando em te ter pelo tempo que fosse, mas sim de uma maneira plena e constante. Tenho milhões de motivos para pedir perdão e muitas coisas entaladas na minha garganta. Não devia ter te feito perfeita nos meus pensamentos, tinha que ter olhado para os teus erros. Ambos esquecemos que não existe ninguém igual.


Chorei, esses dias. Pelos dias que segurei minhas lágrimas. Foi doce.
UMA EM MIL

Ele era andarilho. Por opção, diga-se de passagem. Filho de reis, mas numa crise psicológica. Resolveu trilhar o caminho asceta por uns tempos. Definiriam os filósofos como crise de meia idade antiga, quando os menininhos mimados queriam achar motivos para continuar vivendo. Tinha acontecido a mesma coisa com Buda. Ainda bem que Freud não tinha nascido naquele tempo. Oi será que suas teorias fálicas teriam sentido mesmo nesses casos?

O terreno árido da arábia era algo inconstante. De dia quente, de noite gélido. Mais ou menos como aquelas garotas dos comerciais de tele-sexo. Pelo menos deve ser. E esqueça essa idéia de processos, estamos no oriente médio antes de Maomé ou usurários. Nada era crime, e a grande novidade tecnológica era o DIU. Testado em camelas de laboratório, inclusive.

Depois de uns tantos dias de caminhadas, o jovem resolve atalhar. Não pergunte como atalhar no meio de um monte de dunas iguais, mas asnos falam em todos os idiomas. O fato é que ele tropeçou. E, caído, oulhou para trás. Viu no chão uma daquelas lâmpadas de óleo de baleia, antigas, para iluminar residências. Não tinha nenhuma baleia por ali, isso era certo. Não via casa. Mas ela estava ali. Brilhando. Milagrosamente. Ele pegou, cheirou, olhou e guardou na sua sacolinha.

Finalmente durante a noite chegou em um vilarejo. E nesse lugar tinha uma bodega, ou sei lá o nome que davam àquilo naquele tempo. Viajantes, gentes libidinosas, propostas lascivas... e uma mesa de apostas. Como sempre. O fato é que - tirando as mulheres - os jogos eram a atração principal. E atraíram o jovem andarilho. Era um tipo de jogo do osso, onde o lado escuro ganha e o claro perde. Jogado com a rótula do joelho de um camelo. No caso eram combinações, seis ossinhos atirados por um e seis pelo outro. Quem perdesse menos na jogada ganhava. Ou quem ganhasse menos perdia. Seja lá como for, não tinha diferença nenhuma.

Havia um homem grande e de barbas (mentalize aí um árabe padrão dos filmes americanos) que estava ganhando tudo. Deixava todo mundo liso. Gabava-se de uma técnica que usava. E no meio de uma das suas falastrices foi interrompido.

- Não existe nada de mágina. É apenas probabilidade. Você deixa suas apostas mais baixas quando tem menor probabilidade de ganhar.

- Ah, é espertinho? Da onde tirou esta idéia?

- Da universidade. Me explicaram tudo lá. Sou engenheiro.

(Não vem me perguntar de Sócrates, Platão, e outros. Senta e escuta a história.)

- Universiade... Como te chamas, engenheirozinho de araque?

- Aladin.

- Bom, queres comprovar essa tua teoria?

- Com prazer.

E se puseram a jogar. Aladin ganhou várias. Fazia apostas magras quando perdia. Coincidentemente. Ou não, como ele sempre frisava. Tudo questão de probabilidade. Até que a um momento, o velho apostou apenas uma moeda. Aladin casou a sua moeda com a dele, mais tudo o que tinha, mas só atiraria a sua moeda se o velho cobrisse a aposta.

- Não tenho dinheiro.

- Tem terrenos? Qualquer coisa? Aceito a aposta.

- Tudo bem. Atire.

Depois que ambos jogaram, Aladin não pode acreditar. Depois de tantos cálculos, a matemáquina que ainda nem tinha nascido já tinha dado uma rasteira nele. A certeza do cálculo correto, mas a resposta errada. O velho sorriu, ajeitou o turbante na cabeça e recolheu tudo. Aladin se desesperou:

- Escuta, não posso voltar para casa sem nada... Vamos apostar mais uma! Eu aposto a minha lâmpada!

O velho olhou, apalpou, cheirou e disse:

- Sei não. É muito velha. Fazemos assim: eu aceito a aposta, mas eu caso a minha filha Xarezade. E aí? Topa?

- Tua filha?

- É, cansei dela, ela vive contando histórias. E aí, vai ou não?

Aladin olhou, apalpou, cheirou e disse:

- Melhor que camela. Tá apostado.

Depois disso a lâmpada iluminou por muito tempo a casa do grande sultão. Ele deu a sua filha para um rei maníaco que matava esposas, para poder se livrar dela.

E Aladin perdeu o seu bem mais precioso, mesmo sem saber.

Donnerstag, Juli 18, 2002

THE FIFTEEN MINUTES STORY

Tenho quinze minutos para contar uma história. Pode ser da vida de um nêutron desgarrado. Não sei se alguém consegue imaginar o impacto dessa minha frase. Um Nêutron longe do núcleo. Desestabilidade molecular. Isso deve ter acontecido em algum lugar da minha massa celular. E como é uma reação de fissão nuclear, deve ter distribuido uma carga monstruosa de energia desestabilzando todo o conjunto. Como uma Hiroshima interna. E não sei dizer quem foram os Estados Unidos que me atacaram, embora possa suspeitar. Aí culpo meu talibã e invado a tua Chechênia. Tudo em nome da minha liberdade de ir e vir nos meus recantos.

De qualquer maneira, não importa quanto as redes internacionais implorem. Vou destruir a todos. Principalmente quem desgarrou esse meu neutronzinho. Representa, provavelmente, todo o meu universo caótico rumando para aquele buraco negro que já sugou muitas gigantes vermelhas. E isso é massa pra caramba. Devia ser um glutão intergalático nefasto, cheio de volúpia comilona e vontade de me ferrar. Tudo por um pedaço de carne inútil que forra minha caixa craniana.

Mas o objetivo com certeza era outro. E todos os cânceres juntos não dariam conta do recado. Me destruir não é tarefa fácil, não tão simples quanto me construir. E não adianta juntar um monte de argumentos sólidos para fundir em mim, eu precipito tudo e tu tem que juntar denovo. Não é desse jeito. Não tem como ter sucesso. Ainda mais em réles quinze minutos.

Sonntag, Juli 14, 2002

A vida que me espere.
Ou eu me desespere.

Sonntag, Juli 07, 2002

Ela era linda. Ainda mais por não esquecer o i no meio de um beijo ou queijo.
NO VACANCY

O guarda falava:

- Não senhor, não leu a placa?

- Que palca? Juro que não tinha placa nenhuma!

- Pois sim. Você tem que entender que só porque essa vaga estava disponível, não quer dizer que seja sua. Está escrito "Reservada para Carros Oficiais". Por acaso seu carro é um desses?

Não teve jeito. A multa veio. E os pontos junto. Tudo porque, numa via movimentada onde todos os estacionamentos parecem lotados, surgiu na minha frente um oásis. Na verdade era uma vaga, mas para qualquer motorista faz sentido essa analogia. O carro coube como uma luva, em duas manobras, suave. Como se tivesse o nome previamente escrito, mensagem divina, talvez. Só que tinha uma plaquinha. Era para cinco minutinhos, ninguém ia ver. Quando voltei do caixa automático, estava sendo autoado.

Em casa, lendo a notificação, tive a impressão de já ter visto isso antes. Dèjavú. Embora eu nunca tivesse sido advertido monetáriamente no trênsito - fui sim buzinado, apitado e xingado, mas não multado. Falta leve, mas que macula o bolso principalmente na renovação do IPVA. Mas mesmo depois de toda essa divagação aquele sentimento estranho voltava. Como um filme do Schwarzeneger, onde tu passa o tempo todo achando que já viu aquela cena. Passei as horas que me restavam do dia assim, entre meus pensamentos, vendo o DOC sobre a mesa da sala.

Durante a noite veio a revelação. Talvez por ter passado muito tempo matutando em cima daquilo, mas veio claramente a origem da sensação. Num sonho dos que eu não me lembro, ainda por cima. Mas estava lá toda a verdade. Isso sempre aconteceu comigo. Seja num emprego, conversa, amizade ou pretensas paixões relâmpago. Os lugares sempre pareciam vagos, mas eu não via - ou fazia questão de não ver - a plaquinha. Maldito pedaço de lata.

Nesse ritmo desatinado, acabei levando muitas multas. Consegui ficar na vaga por mês ou dois, até apagar o nome do titular e escrever o meu no lugar por um tempo. Mas esse tipo de vaga é alugado, e só fica guardado para ti até expirar o contrato. Data esta sempre desconhecida da ao menos uma das partes contratantes - explicitamente eu. Até hoje muita gasolina queimada, muita marcha cambiada, e nada de uma vaga segura, sem parquímetros e policiais, na sombra, para eu descançar o burro.

Definitivamente eu vou fazer um puxadinho. Acho que é isso que os americanos querem dizer com "self-made man".

Samstag, Juli 06, 2002

Assuntos internos:

Separei as coisas por aqui. Deste dia em diante, deixo meus textos aqui - óbvio, com suas futuras atualizações - e coloco meus posts na Privada, meu novo posto de depreciação humanitária.

Seguimos agora com a nossa programação normal.