Donnerstag, Oktober 10, 2002

GUERRAS PESSOAIS

Ele estava nervoso. E fazia tempo. Não entendia bem o motivo. Mas as coisas pareciam que estavam fora de seu controle. Não tinha nada para se preocupar, com a mais absoluta certeza: nem emprego, nem moradia, tampouco dinheiro. Mesmo assim, a vida de estudante profissional era uma das coisas mais complicadas e estressantes do mundo. Todos nós já pensamos assim. O que não faz a falta de visão, hein? Ou seria verdade mesmo, e temos a mania de sempre achar que estamos em um momento pior que o anterior ? Seja como for, ele sofria. E ainda mais por não saber o que essa palavra significava.

Sentado nos bancos da escola, não tinha vontade de assistir as aulas. Ficava os dias inteiros, as vezes, de bobeira. Olhando os eucaliptos. Como se aquelas árvores tivessem o poder de dizer a palavra mágica que salvaria o seu mundo recém nascido da desgraça. E adorava os dias de chuva. Porque as cores ficavam mais vivas, e aqueles imensos vegetais mais comunicativos. Esvasiava a cabeça e olhava. Tentava escutar. Mas só ouvia os schlecht, schlecht (ou sei lá eu que barulho aquelas coisas faziam) das árvores dançantes. Nenhuma resposta.

Seus amigos já tinham desistido de conversar com ele. Sabia ser chato quando queria. E esse era o momento. Semrpe de mau humor, conseguia afastar todo o mundo com seus comentários ácidos. Queria parecer de pedra, mostrar para todo mundo que não doía, que tinha o controle total das coisas que aconteciam. E se tornava antipático. Respondia um "oi, tudo bem?" com um "o que deveria estar ruim?" ou coisas do gênero. Rendia, obviamente, muitos momentos de contemplação solitária.

No fundo, ele só queria era ser compreendido. Queria poder xingar alguém absurdamente, eqüinamernte, extrapoladamente, e depois de tudo abrir os olhos e ver que não tinha saido dali. Que ainda tinha alguém com ele, agüentando o mau humor. Que não tinha se tornado uma vítima de um mal desconhecido e criado por sentimentos confusos de uma mente ociosa.

Mas existem algumas batalhas que nasceram para serem perdidas. E isso é bom. É uma pena que ele só vá aprender isso tempos depois, quando as suas dores já forem apenas bobeiras de criança.