Freitag, Mai 31, 2002

PALEATIVO

- Tio, me dá um paliativozinho?

Fiquei olhando o gurizinho. Uns dez anos, todo sujo. Com uma roupa daquelas companheiras, que devia estar acompanhando ele há muito tempo, devido ao comprimento. Cabelo que não via um sabãozinho faz tempo. E disse aquilo. Paliativo? Daonde ele tirou isso?

- Como é que é?

- Um paliativozinho. Desses que tem um beija flor.

- Ah, tu quer é dinheiro.

- Eu também achava que era, mas um moço me disse que não é.

- Como assim?

- Eu falei pra ele pra me dá um real. Ele disse que não me daria um paliativo.

- Ah, bom. E ele explicou o motivo de ter disse isso?

- Não disse nada.

Coitado do garoto. Além de pobre acabou de ficar confuso. Quem será que disse isso? Possivelmente algum estudante de ciências sociais, ou política. Esses caras...

- Bem, o que ele quis dizer era que te dar um real é um paliativo. O que ele deveria fazer é lutar por toda e qualquer pessoa que viva na tua situação. Providenciar escolas, comida, condições de trabalho. Te dar dinheiro é errado, tu pode acabar gastando em drogas e coisa parecida. E aí? O que vai acabar acontecendo?

Ele me olhou. Parecia atônito. Claro, que cabeça a minha. Agora dei uma de burro, tentando explicar para alguém que nunca estudou um conceito difícil de ser aceito por muita gente. Aqueles que dão um real nos semáforos, cinquenta centavos no barzinho, o troco da passagem na descida do ônibus. Só estão aumentando as conseqüencias de atos não pensados. Mas, de qualquer jeito, aquele gurizinho não tinha nada a ver com aquilo. Fiz mensão de pegar a carteira quando ele falou:

- Mas escuta aqui tio, e o meu direito de consumidor?

- O quê?

- Eu sou um capitalista. Eu uso essa maneira para conseguir o meu dinheiro para consumir. Eu faço o meu papel social. Sustento as campanhas políticas de partidos de esquerda e ainda por cima funciono como aglutinante quando as pessoas querem se meter a sociais. Mas isso não é problema meu, é problema dos nossos governantes que se submetem a tudo o que o capital estrangeiro manda. É culpa do FMI, dos estados unidos, ingleses e muitos outros manipuladores de plantão.

- Uhm... Bem, eu...

- Tu eu não sei, mas eu quero meu real duma vez. Chega de perder tempo com quem ainda não tem opinião formada sobre assuntos tão importantes. E tenho ainda que passar em todas essas mesas.

Entreguei o dinheiro e fiquei pensando na vida. É boa essa vida de pedinte em bar de universidade. Pelo menos tu aprende a contra argumentar. Acho que resolvi meu problema de emprego.

Dienstag, Mai 28, 2002

MEU PAPEL NA SOCIEDADE

Vou me comunicar agora somente por bilhetes. Vou andar com um bloquinho de "Post-it" amarelo, outro vermelho e um branco. O amarelo para falar as coisas normais. Entrar numa loja, por exemplo. Escrevo um "Oi" simpático. Mostro para a atendente. "Quero um Mini-System", no post seqüente. Simples, rápido e prático. Posso até criar uma linha especial, tipografada, com frases padrões, tipo "Oi, como vai?" para simplificar as coisas. Respostas, frases típicas. O bom é que posso ensaiar esses meus diálogos em casa, criando uma malha de perguntas e respostas.

No caso de não ser uma situação corriqueira, como a supra citada, lanço mão do meu bloco branco. Esse serve para a cantada, a conversa fora de ocasião. Fatalmente escrita a caneta em punho próprio, mesmo em se tratando de uma cantada já conhecida. Sabe como é, tem que dar aquela impressão que é a luz da lua que inspirou aquelas palavras, e não algum filme antigo. Serve também para uma apresentação informal a um transuente qualquer para perguntar a direção de alguma rua ou logradouro. Cola no vidro do ônibus para perguntar "Passa na Osvaldo?". Branco, algo muito clean. Para situações de mesmo teor.

Já se for uma discussão, uso o meu bloco vermelho. É esse que eu uso para mandar pra puta que pariu, xingar a mãe e a décima quinta geração da família do taxista que me cortou a frente, do cara que pisou no meu calo, da guria que me deu um fora. Muito útil, também pode ser padronizado com frases pré setadas, como o popular "Vai pastar!", "Filho da Puta!" e outros de menor calão.

As vantagens são evidentes. Ninguém pode dizer que não ouviu o que tu disse. O problema do entendimento se resolve com umas aulinhas de português a mais, para evitar as redundâncias, e com um bom caderno de caligrafia (ainda existe isso?). Para os modernosos, dá para usar as mensagens de celular. Como disvantagem não dá para dizer que não disse/escreveu alguma coisa. Dá para usar em uma audiência pública, por exemplo, para acusar. E também para cobrar políticos de promessas não cumpridas.

Tudo isso para poder mostrar o meu papel na sociedade.

Freitag, Mai 24, 2002

XADREZ

O peão da casa do Rei vai para frente. Jogada clássica de qualquer iniciante de xadrez. Isso para poder liberar os bispos para peregrinar entre as casas pretas e brancas. O coitado do peão vai mesmo é para defender o chefe de um ataque frontal da Rainha. Essa é sempre a maior preocupação. Elas desfilam charme no tabuleiro, matam um bispo, trucidam o cavalo, fazem de tudo com o objetivo de ver o seu Rei sucumbir. E depois, mais dor de cabeça com pensão, divisão de bens (eu fico com as casas brancas!!). Mas, para evitar isso, o peão se moveu.

Os peões parados vêem os cavalos saltarem por cima das suas cabeças. Esses são uns escolhidos. Tudo o que eles fazem é diferente. Inclusive os movimentos cambaleantes. São uns falastrões. Adoram montar tocaias e comer Rainhas. São uns garanhões. Seu "L" corre por todos os cantos do tabuleiro, entram no meio dos peões inimigos e causam furor. Só quem ri deles é o Rei. São muito "porra locas", um passinho para o lado e o ele está livre. E talvez por causa dessa virilidade excessiva com poucos miolos, são frequentemente usados como iscas em ciladas para bispos.

Falando neles, estes são especialistas em comer. Comem todo mundo. Não tentam gracinhas com o Rei, mas o resto... Peões sofrem na mão dos bispos. Eles são freqüentemente ludibriados por toda o blábláblá cristão. Os cavalos são campeões em perecer perante esses servos da igreja. Figuras ardilosas, começam o jogo do lado do Rei, dando conselhos, e do lado da Rainha, em uma atitude pouco condizente na sua posição. É por isso que este é quem sempre se mexe primeiro, rompendo pelo espaço vago pelo peão do Rei.

Depois de um tempo de jogo, vários peões pereceram. Um ou dois bispos foram flagrados pela Rainha e postos fora de combate. A Rainha de um dos lados já está morta, para a felicidade de um dos Reis que se escondeu na casa da mãe (popular Roque). Nesse instante surge no jogo uma peça fundamental. A Torre. Ela tem o dom de atravessar todo o tabuleiro em movimentos retilíneos. O terror do Rei adversário. É geralmente com uma dessas disparadas para a linha de fundo que a Rainha entra e confere o resultado do jogo. É muito difícil de ser pega, embora pareça ter pouca mobilidade. Aí mora o perigo.

Mais três ou quatro movimentos, vemos a baixa de mais alguns soldados. O peão do Rei ainda firme, ali, frente a frente com o peão do outro Rei. Se olham. Devem rir um do outro. Já viram cavalos a caça de Rainhas, bispos matando colegas bem do lado deles. E olham a torre sair do roque e esmagar o pequeno bispo preto que tentava nova arremetida contra a Rainha branca. Cheque. O Rei preto se move para a frente. O bispo branco se posiciona. Outro cheque. Tudo nervoso. O peão preto não sabe o que fazer. O Rei se move novamente. Está na mira da Rainha. Cheque mate. O Rei ainda cambaleia duas vezes antes de ir ao solo. E grita: "Eu voltarei!!!! Argh!" Caindo fulminado.

No caminho para a caixinha a Rainha branca passa pelo seu peão súdito que tenta um gracejo. Mas a vida é como um jogo de xadrez... O peão quase nunca come a rainha.

Donnerstag, Mai 23, 2002

Amanheceu o oitavo dia. E Deus, depois do Seu descanço Se espreguiçou. Saiu à varanda de sua nuvem e contemplou a Sua criação. E finalente disse: "Puta que pariu".
MEU CÉREBRO 2002 PLUS

Sua fonte inesgotável de redundância. Profere palavras e pensamentos como uma metralhadora, mas sem a acuracidade de um Buarque de Hollanda e nem mesmo a perfeição de um Veríssimo. A melhor solução do mercado para rápidas explanações da vida cotidiana por um preço módico. Já vem com quatro pré conceitos pré gravados, duas horas de bobagens ininterruptas e neurônios auto limpantes, para usar depois de assistir TV. Testado por diversas instituições de ensino cadastradas ao MEC.

Modo de Usar: Insira alguns ml de álcool fermentado pelo orifício oral do indivíduo. Chacoalhe durante vinte minutos ao som de qualquer coisa. Funciona também na presença de bobagens, mentiras e injustiças quaisquer, por via auricular. Não funciona em presença de mulheres bonitas e momentos que exigam uma decisão rápida.

Precauções: Para uso externo apenas (e bem longe, por sinal). Profundamente irritante para os olhos e ouvidos. Caso ocorra irritação aos olhos, suma da presença do causador, mudando de telefone, endereço e se posível nome. É bastante grudento quando em formato meloso (compatível com modelo Cachorro Sem Dono versão 22.0). Em caso de irritação aos ouvidos, experimente xingar, mandar fechar a matraca ou, em último caso, dê um bom murro na cara. Evite matar o indivíduo, pode gerar mais reações adversas. Se a irritação persistir, procure mudar de país.

Composição: 5 Toneladas de dúvidas, 22 xícaras de incerteza, 321 ml de xarope de mala, 19856 hg de esterco, 35 dias de erros de português, 121 piadas antigas já ouvidas, quarto, sala e banheiro, piscina, vidros verdes, air bag duplo, direção hidráulica, 345 luzinhas coloridas, 14 h de Disco Music, seratonina, Lauril Éter Sulfato de Sódio, Bibs de Amendoim, Álcool Fermentado, 2500PPM de flúor, tara por pezinhos, 12 vitaminas e sais minerais.

Evite contato excessivo. Caso ocorra, lave as mãos com água e sabão. Se for contato oral, coma duas pimentas vermelhas das brabas. Se for intra venal, consulte o seu agente funerário. Não expor ao fogo, discussões ou senas de sexo. Facilmente inflamável.

Produzido e engarrafado porCelso e Ilaine CO.

Quaisquer reclamaçãoes, dúvidas ou comentários, enviar para o Serviço de Descontentamento Geral. Responsável Técnico: Mefístoles Asmodeu CRM: 666

O Ministério da Saúde adverte: o uso continuado dessa aberração pode causar dependência, demência ou delinquência.

Mittwoch, Mai 22, 2002

HABILIDADE RECONHECIDA

Onde estão todas as pessoas nessas horas? Um passe aéreo de calcanhar com uma meia, uma matada no peito, três embaixadinhas (pé esquerdo, coxa direita e pé esquerdo novamente), cruzamento e entrada de cabeça perfeita. Tudo isso sem deixar aquela meia cair. Fenomenal. E onde estavam as vinte e cinco câmeras quando mais se precisava delas? Ninguém vai ver e nem pedir replei no Gol. Não vão poder distribuir pela internet em .rm, para te obrigar a fazer o daunloud do real pleier. Nada. Putz, eu realmente detesto a televisão.

Mas imagina se tivesse uma câmera? Bom, em primeiro lugar eu iria para os programas de domingo. Num deles para ver se eu conseguia bater o récorde mundial de embaixadas com uma meia, que deve ser de algum japonês ou russo, sei lá. Pode ser que no mesmo programa eu fosse na banheira. Mas o certo é que eu estaria, no próximo final de semana, mostrando a minha vida no programa da concorrente. Me mostrariam a minha mãe pedindo desculpas por dizer que eu não devia chutar meias, perdoar as tiras de havaianas arrebentadas. Os meus amigos dirão que eu sempre fui um cara legal, que eu mereço. Eu ia chorar e possivelmente comoveria milhões de donas de casa. E seria manchete do Diário Popular.

O ponto principal ia ser a propaganda. Em todos os outidórs, revistas, jornais, pasquins e similares, estaria eu. Numa foto clássica, trajando um calção, uma camiseta colada de tão suado, de chinelos, cabelos molhados. Em posição de drible de craque, olhando para trás, pé esquerdo para cima, mas correndo, como se fosse dar um chapéu de calcanhar com a bola no ar no adversário invisível. E no ar ela, toda suja, uma dentro da outra lembrando uma semi bola, em um campo muito embarrado. E no fundo "Just do it".

Ainda bem que não tinha nenhuma câmera. Eu não gosto da Nike.

*Todas as redundâncias, erros de português e correlatos foram mantidos para valorizar a dramaticidade da obra.

Dienstag, Mai 21, 2002

FALTA NEXO

Vou vender minha alma ao diabo
aceito cheque pré datado
não quero mais trilhar esse caminho
nem mais um pedacinho
e não faz essa cara
não sou criatura rara
tenho escrito na testa "louco"?
senta, toma o chá e espera um pouco
vou te contar a minha história
como se fez a minha memória
tenho momentos guardados
todos os erros e fardos
só que não conto por menos de mil
pra me afogar num barril
se não pagar, as revistas pagam
contar para os outros que babam
esperando para comer semelhantes
mesmo que seja na moral e por instantes
diários, convoscos, folhetins
do lado da foto dos novos motins
mais um, menos um, tanto faz
e meu corpo combina com "aqui jaz"
embora eu prefira bolero
e seja bem sincero
tá chega de suplício
vou suspender o comício
e deixar que os homens sigam
e torcer para que consigam
porque eu desisto
não mais resisto
trago para todos os viventes
plaquinhas de "inocentes"
assumo as culpas e vou
sem noção do que sou
e chega de rima perdida
paga a minha bebida
me deixa na calçada
gosto de dormir nas escadas
não tenho as curas do mundo
mais meu sono é profundo
e ronco pra caramba
sou pior que caçamba
e tenho dois dias pra dormir
e minha vida pra tentar sorrir
era isso.

Montag, Mai 06, 2002

COISAS

As coisas estavam acontecendo de maneira muito peculiar. Foi o primeiro pensamento dele assim que abriu os olhos. Ficou mais um tempinho na cama pensando naquela conclusão. Estava muito certa. As coisas andavam meio estranhas. Tirou os cobertores de cima do corpo e sentiu o vento frio da manhã. Olhou para o teto, no três levantou. Tava frio, tinha o que fazer durante o dia. Um banho poderia ser bom naquela hora. Decidiu pela ducha.

Enquanto a água limpava seu corpo do sono, clareava a sua cabeça. E nem foi por causa do shamppoo. Reportou-se a duas semanas atrás. Estava ele tomando banho, naquela mesma hora, mas com outra postura. Estava indignado por estar fazendo aquilo. Queria ficar entre as cobertas, dormir até o meio dia, ficar vendo desenho. No final do expediente do mesmo dia, recebeu o bilhete azul. Seja lá quem foi o anjo que ouviu as preces dele, foi muito eficiente.

Desligou o chuveiro, pegou a toalha. Secou-se e olhou o espelho. As coisas não pararam por aí. Ele se envolveu com mais um assunto difícil, complexo. Coisas do coração (ou da falta de, o que seria mais correto). Quando tudo estava parecendo ir para as cucuias, alguém se meteu e resolveu o caso. Providencial. Divino. Realmente alguém estava tomando as decisões mais difíceis por ele. E não sabia nem quem era e nem o que desejava com isso.

Já vestido, entrou no carro ainda pensando. O que significaria todas essas coisas? Ele não achava motivos muito claros para levar a vida que vinha levando, reclamão, insensível. Já se sentia livre para as coisas novas. Em paz, como há tempos não sabia ser. Deu partida e ligou o rádio exatamente na hora de Everlasting Love. Sorriu. Engrenou o carro e saiu.

Alegre rumou para a Avenida Principal. Viela singela que tinha esse nome por ter sido a rua onde o Príncipe do Futebol deu seus primeiros dribles. Preferencial, embora muita gente se esqueça disso. Até mesmo ele caía nesse erro as vezes. E foi com Cake nos alto falantes que ele entrou nessa lendária travessa. Estava atrasado, tinha que estar na empresa de seleção em dez minutos. Engraçado... Príncipe do Futebol, Seleção... Rrrrrrrrrrrrrríííí....Crash.

Acordou em uma grande sala de espera. Branca. Estava sentado. Vestido de branco. Parecia ser um hospital, mas ele estava inteiro. Parecia muito irreal. Tanto quanto o Corsa branco que veio em grande velocidade se chocar contra a sua janela, há segundos. Ou meses. Não dava para precisar. Foi muito rápido. Mas ele lembrava. Qeria uma revista. Se olhar no espelho. Sabe como é, se aquilo fosse um hospital, sabe-se lá o que tinham feito. Levantou já decidido a ir em busca dessas coisas de primeira necessidade quando abre-se uma porta no final do corredor.

- Jorge Luís!

Ficou estático.

- Jorge Luís!

- Sou eu.

- Por favor venha por aqui.

Seguiu a voz pelo corredor. Branco. Não o corredor, ele. Podia ser que fosse o médico, o responsável, qualquer coisa dessas. Era comprido esse caminho, fresco e ventilado. Parecia agradável e talvez fosse se ele soubesse onde se encontrava. Muitas portas. Numa delas, entre aberta, lia-se "Gabriel", e dentro havia som de cornetas. Adiantando-se viu pela fresta o que seria um ensaio.

- Não, não, não! Isso é para ser uma anunciação, não um baile de debutantes. Quero mais energia nisso. E Muriel, o que você está fazendo com essa guitarra? Os anjos usam cornetas! E faça o favor de tirar esses piercings!

Até seus neurônios ficaram em silêncio. Ainda antes de seus olhos abandonarem a brecha pode notar asas. Achou que só poderia ser um sonho. Seguiu reto pelo corredor. Tinha que perguntar para aquela voz o que estava realmente acontecendo. Parou à porta.

- Entre.

Tinha muita luz lá dentro, mas a curiosidade era maior que o receio. Adiantou-se.

- Com licença.

- Pois não, sente-se.

O interloucutor era um senhor de idade, com barbas longas e cabelos combinando, amarrados em um rabo. Vestia um terno branco, com gravata branca e camisa de mesmo tom. Parecia muito sábio e tinha ar agradável. Foi ele quem falou denovo.

- Jorge Luís, eu sou Pedro.

- São Pedro?

- Sem títulos por favor - entre sorrisos e um gesto vago. Mas sou eu mesmo.

- Isso quer dizer que estou morto?

- Não tecnicamente. Você está em coma, num hospital.

- Não sei o que dizer.

- Não precisa. Aceita água, uma óstia?

- Claro, obrigado.

Alcançou o pratinho com os paezinhos redondos.

- Aqui tem patê.

- Patê?

- Pra dar um gostinho nas óstias.

- Mas isso pode?

- Aqui pode. É de cordeiro, ótima. Experimente.

Um segundo de degustação. Realmente era muito bom.

- Bem, mas por que estou aqui?

- Oh, certo, certo. Você já deve ter percebido que algumas coisas têm acontecido, digamos, estranhamente...

- Estava pensando nisso hoje pela manhã.

- Eu sei.

- Mas como?

- Isso é um outro assunto. Como eu ia dizendo, essas coisas... não foram em vão. Temos um dos nossos com você, dando conselhos e "limpando a sua ficha" - disse isso sinalizando as áspas com a mão.

- Quem?

Pedro mostrou a foto. Ele apenas sorriu. Só podia ser ela. Amigas...

- Prossiga, por favor.

- Pois bem. Estamos fazendo isso por um simples motivo. Nossos concorrentes estão fazendo uma camapnha um tanto quanto desonestas para arrebanhar mais almas.

- Você quer dizer, o Coisa Ruim?

- Ele mesmo. Tem saído por aí prometendo desejos em troca de almas.

- Acho que já ouvi isso.

- Ocorreu com Fausto.

- Provavelmente foi daí...

- Foi. Fizemos com que você escolhesse esse livro na estante.

- Ei, mas quanto aquela história de livre arbítrio?

- As vezes somos forçados a interceder. Mas somente com a aprovação do Supremo.

- Oh...

- Sim. E ele está ciente do que está ocorrendo. Tudo isso foi parte da nossa estratégia.

- E posso saber o que é?

- Claro. Você é o primeiro dos nossos a poder escolher o seu futuro. Nós temos uma base Standard que pode ser modificada de acordo com os seus gostos. O pacote inclui admissão em universidades, filhos super inteligentes e saudáveis, sucesso financeiro e a esposa que bem entender - se quiser, óbvio. Dinheiro, tudo o que quiser, desde que previsto no nosso código - disse, apontando um livro.

- O que é isso?

- É o que vocês chamam de bíblia, mas de um tamanho útil. Na de vocês tem muita literatura.

- Compreendo.

- Será acompanhado pelos nossos acessores e poderá fazer todas as escolhas que quiser.

- E o que tenho que dar em troca?

- Sua alma para o nosso rebanho. E viver dentro dos nossos princípios.

- Parece bom.

- Ótimo. Assine aqui.

Jorge assina com uma pena.

- Bom, que vida você quer?

- Bem, deixa ver aquela padrão que você citou?

- Claro.

Jorge leu o papel. Parecia bom. Estudar física, fazer três ou quatro descobertas que salvariam milhares de vidas, icluindo a cura do câncer, dois títulos estaduais de futebol como jogador e cinco best-sellers. Dinheiro suficiente para quantas viagens quisesse e um plano de bonificações para cada boa ação extra. Parecia tudo muito fantástico, mas ele balançou a cabeça no final.

- O que há errado?

- O item casamento. Não estou muito confiante nessa companheira.

- Temos outras - disse, abrindo um catálogo.

Jorge olhou e reconheceu um rosto em especial. Velho conhecido.

- Eu quero uma dessas.

- Só um momento. Vou ver com o nosso estoque - pegando o telefone.

Duas ou três palavras e estavam devolta ao assunto.

- Infelizmente, não podemos - disse, desligando.

- Como assim?

- Esse modelo é especial. Temos apenas uma dessas e não vamos fabricar nada nessa linha. É um modelo muito complicado, arisco demais. Sei que é muito atrativo, mas não temos nada nem mesmo similar.

Jorge balançou a cabeça. Pedro se ergueu, caminhou até o rapaz e afagou seus ombros.

- Sei perfeitamente o que passa pela sua cabeça. Conhecê-la foi algo que não estava nos nossos planos. Ela sempre faz o que quer. Nem mesmo Mefístoles põe regras nela. Mas temos esse modelo aqui, que parece ser muito bom. Faz um test drive e caso não goste, me ligue - disse, estendendo um cartão.

- Bom, vou tentar. Ok, acho que está na minha hora.

- Certo. Você vai acordar e começar a viver novamente a sua vida. Espero que goste.

- Eu também.

Despedem-se com um aperto de mão. E foi assim que começou a nova vida do nosso herói. Ia viver a vida que Deus lhe deu. Literalmente.

Sonntag, Mai 05, 2002

THE WRONG REASONS

These words I'm typing
To explain my reasons
Like the birds when flying
In the end of hot seasons
Maybe I can show
My world in a blue day
But I really don't know
What my fingers will say
I've known you was "she"
What your name have were to me
But I've really can't see
How important you'd be
You've smiled to me
In a rainbow of emotions
You've catched me
In your own prepositions
You've gave me your wisdom
Your lips and heart
And I've gave you my kingdom
But it was yours
From the very start
You've maked to me any sense
An I will love you
In past, present or future tense.

*This is an abnormal situation, when my head think that she knows what she is writting. I'm apologiesing for any gramatical mistakes.

Donnerstag, Mai 02, 2002

SINAL DOS TEMPOS

Caro cidadão

Você foi escolhido para uma nova empreitada. Seu e-mail e toda a minha mail list está sendo convocado a ser parte da nossa história futura. Não deixe essa oportunidade de mudar o nosso país passar em branco. Leia e siga atentamente as instruções contidas nesse e-mail. Não desaparecendo os sintomas, procure orientação do seu parlamentar preferido.


Amigo,

Esse e-mail é transcrição de uma corrente nacionalista que data de 1964, quando, sabidamente, o Brasil caiu nas garras do imperialismo ianque através da ditadura militar. Escrito pelos guerrilheiros do araguaia em sangue. Foi aumentado pelos mártires da nossa história recente, e apreciado por milhares de brasileiros que, assim como você, sonham em mudar de vida. Foi profundamente difundido pelo correio na época das diretas já, quando recebeu nomes como o de Ulysses Guimarães. E essa versão especificamente foi aumentada durante o Fora Collor, pelos Caras Pintadas, em conformidade com os contrato com a Rede Mundo de televisão.

Estamos solicitando a sua colaboração apenas para encaminhar esse e-mail para todos os amigos da sua lista. Como é sabido, para cada nome que aparecer no Forward a microsoft vai doar R$0,10. Esse dinheiro vai ser utilizado para compra de tinta para distribuirmos no próximo congresso virtual, no chat do Terra, com transmissão via câmera digital.

Se você não tiver computador em casa, pode participar via wap, no seu celular Ercisson que deve ter sido recebido depois da sua última promoção contra a Motorolla. Encaminhe o seu recado do seu celular, para lotar a caixa de e-mails da Câmara, do Senado e do Presidente mostrando toda a nossa indignação contra o Neo-Liberalismo. Ainda cadastre o e-mail do seu parlamentar preferido em sites pornográficos para aumentar o número de mensagens na caixa do infeliz.

Mas não votemos no Lula, porque ele não tem icq e aina por cima fala inglês mal pra caramba. Sem contar que os americanos estão aconselhando a não investir no Brasil por causa da liderança do dito cujo nas pesquisas.

Assim, faça a sua parte. Caso não queira... Temos algumas historias.

Antônio Carlos Magalhães leu e destruiu a sua cópia. O resto vocês sabem.

Luís Estêvão leu e não deu bola para o mesmo e-mail. Foi cassado, mas depois se arrependeu, mandou para todos os membros da sua lista e hoje está definindo a Copa do Brasil.

A escolha é sua. Se encaminhar para vinte pessoas da sua lista, ainda ganha de lambuja sorte no amor para os próximos vinte anos da sua vida. Mas não mande agora, se enviar para mais de cinqüenta pessoas ganha totalmente grátis mais ingressos nos maiores sites pornográficos da rede.

Atenciosamente,
Eu.

*PS: Não se esqueça de verificar se existe aquele novo vírus da internet, o WINDOWS em seu computador. Ele se manifesta pela presença de uma pasta no seu disco rígido. DELETE-A imediatamente. Isso vai corrigir os possíveis danos.
INSPIRAÇÃO

Sabe, falta inspiração para escrever hoje. Mas estou com vontade. Então, isso requer alguma estratégia.

Poderia plagiar o Luís Fernando Veríssimo (quem sou eu para tal feito) e escrever um texto ao som de Valsa. Como é que ele fez mesmo? Ah, era algo como "Escrever é como dançar valsa... um, dois, três... " É mais ou menos isso. Posso fazer uma versão. Tipo essas bandinhas pop de hoje em dia, que não fazem nada além disso. Daqui a pouco vão estar gravando uma versão de Fuscão Preto. Aversão seria uma palavra melhor. Mas voltando às minhas voltinhas, poderia eu escrever a mesma coisa mas em função de Funk, por exemplo. "Escrever é como um popozão... mexe o rabinho, mexe o cacete, mexe o lápis..." Não ia dar muito certo, acho que tenho muitas palavras complexas para um fãnque. Melhor pensar em outra coisa.

Bem, talvez eu possa "me inspirar" em outro autor. Quem sabe o Mário Prata, no seu célebre texto a respeito da carteira dele. Ele ia tirando as coisas da dita cuja e contando as histórias. Tá, falta cacife, eu sei. Mas posso tentar. Ainda mais com a minha carteira que quase foi roubada uma vez na parada de ônibus, em presença de um revólver que até hoje não sei se estava carregado ou não. Ah, não, essa já tá vazia. É minha ex. A atual tá sem história nenhuma, fininha. Só ia poder falar da minha conta do Banrisul, que rendeu ao longo do ano passado inteiro quarenta centavos. Isso mesmo. Chegou no informativo para declaração do imposto de renda desse ano, na minha casa. O preço do impresso deve ter sido maior que o rendimento dos meus cinco reais. Talvez até o final da minha vida eu tenha uns trinta pilas no banco, isso se eles não inventarem uma Contribuição Provisória Sobre os Juros de Poupança e comerem metade dele.

É, não deu. Acho que vou ter que me contentar em ficar sem escrever hoje. Não consigo fazer nenhum cover, se tentar fazer um solo eu vou encorrer em um memorável fiasco. Vou guardar minhas ironias na minha gaveta, as revoltas no armário e pensar em alguma coisa. Talvez ainda hoje eu possa colocar algo melhor por aqui.
sem ambiguidades. sem repetições. esse é o mundo das letras minúsculas.