Sonntag, Juni 30, 2002

MENSAGEM SUBLIMINAR

Paul está morto. É o que um monte de gente insiste em dizer que significam as capas dos vinis dos Beatles desde o Sgt. Pepper.... Mãos que aparecem sobre a cabeça dele, em uma delas. Na outra um suposto equívoco do dublê que esqueceu que era canhoto e fumou cigarro com a mão direita. Um monte de provas irrefutáveis de mensagens sifradas nas letras de Lennon, como um "Com'on dead men" se você tocar a faixa a trinta RPM, de trás para frente e ouvir de cabeça para baixo, tomando coca cola e dizendo o mantra sagrado de vigituriana. E usar um pouquinho da imaginação. Esse é o mundo das mensagens subliminares.

Diz-se de uma mensagem subliminar algo que se diz nas entrelinhas de coisas utilizadas na comunicação de massa para divulgar alguma idéia e fazer o escravo midiático aprender. Como um cachorro adestrado. Dizem que os filmes de Disney estão cheios de mensagens satãnicas, como uma passagem de um que eu não me lembro onde o gato da personagem principal é chamado satã. E a menina abre a porta da casa e pede para satã entrar na casa. Eu não devia ter lido nada a esse respeito, sério. A minha vida seria muito mais simples agora. Eu não perderia o meu sono pensando no que o Fred Flinstone realmente queria dizer com seu "yabadabadoo".

Estou tão desconfiado que acho que encontrei mais uma prova de que isso é verdade. Um carro. Lada. Eu dirigi um. Branco, não o vermelho, como todo mundo pensa. Modelo Laika. E existem coisas muito estranhas. A começar pelo nome. A primeira cadela a ir pro espaço, literalmente, foi batizada com esse nome. Em plena era de competições pela colonização sideral. Talvez seja um sinal. Algo como, se você comprou esse foguete, pode saber que seu dinheiro vai ter o mesmo destino da pobre canina. Seja como for, vou contar a minha experiência abordo da minha sputnik privada (por mais antagônico que isso possa parecer).

Primeiro a porta. Se você tentar abrir, vai fechar. Ou seja, o sentido do destravamento da porta é para a esquerda, numa clara alusão ao Comunismo. "A esquerda é que abre a porta, seu capitalista imbecil" é o que o carrinho parece dizer. Depois topamos com o banco. Logo que você se senta, vê que os bancos são muito duros. Isso numa clara demonstração de que não precisa de conforto, tem que calejar para chegar onde se quer. E que os bancos são coisas maléficas ao organismo humano (o que eu concordo).

No momento da partida, nota-se outra clara alusão ao regime: a ignição fica do lado esquerdo. Algo do tipo "à esquerda encontrarás a força que move você ao bem estar comum". Bocal da gasolina no lado direito, para dizer que quem suga o seu salário, na hora de abastecer, é a direita liberal, que nunca zela pelo seu dinheiro. Espelhos pequenos, para não deixar ver que na rua tem coisas melhores e mais bonitas que ele. Cintos de segurança bastante apertados, para não deixar que o condutor fuja. E um bom ar quente, porque na sibéria é frio pacas.

Mas eu gostei, vou ficar com ele. Além de não falar de nenhum morto, ainda combina com a minha boina vermelha. E quanto aos outros bólidos na estrada, sem preocupações, afinal... no pasarán!
A ORIGEM

Talvez uma das coisas mais marcantes da minha infância seja um fato inútil. Estive pensando isso enquanto assistia um filmezinho desses "C" hollywoodianos, com americanismos e coisa e tal. Tinha um carinha que estava passando por maus bocados, drogas pesadas, gângsters. Mas ele era o mocinho da história. Assim dá para ver o roteiro pré definido padrão americano se instaurando. Um dia ainda consigo mapear todos os tipos de filmes políticos camuflados que eu já vi. Sabe como são as coisas, até os demônios tem cara de árabes, com seus cavanhaques e tudo. Só que esse era um caso de superação pessoal e muita pancadaria.

Não sei bem o motivo, talvez para poder criticar, mas eu vi o filme todo. Perdi tempo de sono, mas pode ter valido a pena. Mesmo com aquelas seqüências esdrúxulas onde o mocinho escapa ileso a uma cortina de fogo de uma metralhadora. Isso porque dessa vez decidi ser crítico, e tentar bolar algo que psicologicamente justificasse tamanha carnificina. Óbvio, abandonando o chavão vencedor de vários óscares: a vingança. Principalmente nos anos oitenta, período de maior orfandade de aprendizes de ninjas da história conhecida. Sem contar os resgatados das guerras perdidas.

Seja como for, acabei encontrando algo que me fez pensar. Numa cena, o herói da história, em um momento pré-sexual com a atriz coadjuvante (nunca vi gordas de 180 kg num papel desses), cai ao humanismo e até mesmo parece chorar. Ele está contando para ela as coisas da sua infância árdua na cidade de Cu do Mundo. Fala de seus irmãos, seus avós e seus pais. Conta os sonhos deles. O pai, ex combatente do vietnã, queria que ele fosse médico. A mãe, escritor. Mas ele disse que aquilo estava em seu destino, ele não gostava de matar, mas era questão de honra, blá blá blá, bi bi bi. Momento ímpar.

Fiquei pensando. Vi naquele herói americano um fênix que renascia. Recebia os louros do sexo da virgem amada, quando renegou seus espíritos sanguinário e decidiu perdoar, mas depois de liquidar o chefão. E, numa análise rápida da minha vida, tracei paralelos. Eu também me sinto um vingador, que tenta agora perdoar os males da vida e seguir a carnificina até matar o chefão. Mesmo sem saber quem é o chefão. Mesmo sem ter medo. E principalmente sem ter uma musa para dedicar meus dias.

E, pensando novamente, acabei por descobrir, acho eu, o motivo de eu não saber contra que alvo atirar. Reside no fato que mais me chamou atenção naquela dramaticidade toda. O meu pai nunca me disse o que eu deveria ser. Nem mesmo minha mãe o fez. Pode residir aí a origem da minha dor incontida, o motivo da minha sanguinolência. Entende? Eu não tenho um modelo pré estabelecido para poder fugir e decidir o que eu não gosto. Ou apenas desobedecer e ter sucesso, como qualquer bom ator de hollywood.

Pode parecer estranho. E mesmo desculpa esfarrapada. Mas não é. Eu sei que poderia ter seguido a outra vertente criativa californiana, como a obrigação de seguir a profissão do pai. Mas ser caminhoneiro não é legal quando não se tem caminhão e ainda por cima, nem sabe dirigir uma coisa dessas. Eu podia ser do lar, como a minha mãe, mas acho que ia ser um tanto quanto abstrato. Ainda mais depois da lasanha que eu preparei hoje. Se eu tivesse ao menos uma área para fugir correndo eu teria hoje uma direção para seguir, um caminho. E meus pais me privaram disso.

Agora minha vida segue mais vazia que novela mexicana. Ah, se eles ouvissem o Curt Russel...

Donnerstag, Juni 27, 2002

ENTREVISTA COM O UNICÓRNIO ALADO

"O problema de ser um animal raro está exatamente nessa condição: ser um espécime pouco encontrado. As pessoas tem medo ou se escondem do novo, tentam arrumar alguma explicação", sentenciei. Já não era a primeira vez que tinha que responder aquelas perguntas, as respostas deixavam a minha boca quase no automático. Servi um copo de whisky. Beberiquei:"e caem nas armadilhas que fazem de todos 'iguais'. Por exemplo, a rotulogia. Se a pessoa não sabe do que se trata, rotula imediatamente. É como a menina comunicativa da escola, que tem mais amigos que amigas: Galinha. Mas não, ela é alguém que quer ser diferente, ou seja, alguém que não julga, tenta ser ela mesma não importando quem são os outros."

Ela parecia interessada no que eu dizia. Anotava molhando a ponta do lápis na língua, como os grandes escritores narravam. E eu olhava, lírico, deliciado com a cena, tentando montar um perfil primário daquele ente luminoso. "Outrossim (havia me tornado grave), existem indivíduos que fogem, como já comentei. Estes começam a dialogar por dois minutos e saem, para nunca mais chegarem perto. Aquela coisa da revelação. Quando o incomum se mostra, ocorre a renúncia da possibilidade. Como se no momento da remoção da presença do 'freak' do seu caminho retirasse também a possibilidade de existir algo tão ou mais diferente do que aquilo, levando o mundo como essa pessoa conheca à bancarrota." E seguia-se o ric ric do lápis.

Parei diante da janela e mirei a paisagem. O fosso de luz do prédio, um quadrado cheio de janelas que se espiavam curiosas na presença de alguém. "Existem também os incrédulos. Quando tu diz algo revelador da tua condição de aberração, caem urgentemente em modo 'defesa', tentando provar para todos que tu é normal. Procuram uma falha, uma incoerência para poderem atirar na tua cara que não é quem dizes, se utilizando de meios sujos e inimagináveis". Fiz brve pausa.

"De modo que", voltei finalmente, "é por estes que acabamos ostentando o escudo de mentirosos. Hipócritas. Não que não o sejamos, todo mundo é, mas somos os únicos de quem se vedam os direitos de negar. Falamos coisas que tecnicamente não fazemos, mas sentimos e admitimos. Isso é incomum aos olhos da maioria. Nos damos conta de que existe algo errado e agimos de modo a não permitir que isso ocorra na nossa vida. O que repugna é simplesmente riscado do vocabulário, das ações e das mentes. Mas erramos, e podemos cometer deslizes contraditórios. Mas como somos diferentes, não podemos errar."

E ela virou a página.
PENSE NISSO

Lógica. Isso é uma coisa que intriga muito os pensadores de todos os tempos. E principalmente a corrente neosófica que estuda as partes mais imperceptíveis da história. Como por exemplo a hípica asteca e o urbanismo cigano.

Esses estudiosos estão agora redescobrindo coisas que nunca foram descobertas. E fazem releituras de redundantes fato que aparentemente não tem nexo nenhum mais fazem parte das nossas vidas. Em escavações nas planícies nepalenses já encontraram milhares de restos fósseis de indivíduos primitivos interessantíssimos. Eles faziam uso das monções para o cultivo da cana de açúcar na região, sendo os primeiros indivíduos a circunavegarem a costa da mongólia.

E as grandes redes de tv não noticiam essas coisas.

Postado simultaneamente no Subsolo e no Entschuldigen....

Donnerstag, Juni 13, 2002

DATAS, ATOS & FATOS

Mandou o e-mail. No dia dos namorados. Estava escrito "Detesto o dia dos namorados". Ele escreveu e riu por horas. Lembrou de quando havia dito aquilo a cinco anos atrás. Era a primeira vez que conversavam. Tinha rolado aquele clima, havia aquela sinergia envolvendo eles. Como se fosse, naquele momento, sido proferida a senha que enlaçaria seus futuros. Pequeno nó de dois anos, é verdade, mas intensos. Não tanto quanto ele queria que fosse. Se, aliás, ele tivesse se preocupado menos com o tempo, poderia ainda ser rotina. Estava tarde, foi dormir.

Durante a noite lembrou de tudo o que havia acontecido. Os olhares, as caras e bocas. Lembrou das fotos que não tiraram juntos, dos beijos escondidos, os suspiros e abanos. Todos os atos conscientes e inconscientes. Os recados, e as entrelinhas... Polêmico. Havia um problema nas entrelinhas. As palavras. Tinha algo na cabeça dele que sempre funcionava difuso ao que ela pensava. Chegava a ser estranho. Com uma certa freqüência, durante a noite, gastavam um tempão discutindo sobre o que tinha se passado na semana. "Desculpe querida, quando eu disse isso era para ti entender aquilo..." Incompatibilidade esta que talvez tenha sido um dos motivos do final prematuro.

Esperou a resposta durante um mês. No segundo, pensou que eram problemas de conexão. No terceiro, mudança de endereço eletrônico. O quarto mês foi o do estrondoso lançamento de "Me entender é facil", seu primeiro e únco livro. Hoje ele é pingüim de geladeira.

Sonntag, Juni 09, 2002

TELEFONE

Telefone. Número. Ele está ali. Sentado. Ao lado do aparelho, com o número na mão. Tem um nome do lado, escrito com caneta bic. De punho próprio. Ligar, ou não ligar? Esse não era o dilema de Shakespeare, mas era o dele. Estava no ônibus quando recebeu aquele endereço celular. Uma menina incrível. Difícil achar alguém para conversar em uma hora de viagem de maneira tão agradável. Em uma ocasião não planejada, inclusive. Pegou a linha errada e desceu no final do intinerário. Tudo por uma boa conversa.

Aquela viagem era algo comum. Ficava na estação em frente ao hospital esperando a linha de sempre. Desta vez sozinho, sem os amigos que frequentemente se aglomeravam com ele nesse horário. Estava lendo um pedacinho de um livro de poesias. Quando viu, o ônibus parou em sua frente, com a porta aberta. Ele subiu, sentou. O cobrador era outro, o modelo do veículo também. Mas o texto estava tão macio e quentinho que ele resolveu nem se importar com isso. Deixou vago o lugar ao seu lado. Estava chovendo.

Cerca de um minuto depois, na outra parada, seu descanso literário foi interrompido por uma desconhecida que se avizinhou no banco. Ele moveu seus olhos para mirá-la. Teve um impacto. Tentou voltar às letras. Mas era inútil. Não conseguia ficar mais de dois segundos sem ter vontade de tornar a vê-la. As palavras da brochura em suas mãos não tinham mais nenhum sentido. Foi quando ela disse "eu adoro poesia, de quem é esse livro?".

Como se num sonho, conversaram alegremente. Não tinham quase nada em comum, o que rendeu muitos assuntos. Inclusive o destino dos dois era diferente - e a linha do ônibus. Embora ele não tivesse dado pistas de não ter prestado atenção ao nome da linha antes de subir no veículo. Mas nada de lamentos, a viagem estava ótima. E terminou numa troca de números. Telefone.

E agora ele ali. Sentado. E se ele ligasse e ela nem ligasse? Ainda mais com aquela mania de inventar trocadilhos sem graça. E se a conversa tivesse sido mantida apenas por casualidade? Poderia ser também que ela não se sentisse bem em viagens rodoviárias, e fazia aquilo em todas para evitar enjôo. Ele mesmo recorria ao Epocler de vez em quando. E se ela nem lembrasse do seu nome? Poderia dizer "oi, aqui é o fulano" e ela "quem?". Onde ficaria o ego do rapaz? Será melhor morrer na dúvida ou agir?

Pegou o telefone e discou. Dentro de vinte minutos estaria chegando sua pizza portuguesa. O resto ficaria para segunda.

Freitag, Juni 07, 2002

VAZIO VÁCUO

Todos os dias ele levantava da cama e agradecia por uma nova manhã. Até o dia que acabou a margarina. Nessa data fatídica ele endereçou um projétil para o centro dos seus miolos, deixando três reais em cima da mesa para que seus filhos providenciassem o miojo do almoço. Caiu inerte como um quadro de Dali, sem nenhum sentido aparente mais com todo o significado de uma vida. Foi capa do Notícias Populares da semana, do lado do horóscopo da Cida Hermenegilda. Um ótimo lugar para morrer.

Donnerstag, Juni 06, 2002

OCO

Estou oco.
Mas pera um pouco,
tá parecendo papo de louco!

Me deixa com meus momentos
Sozinho com meus tormentos
E te livro dos lamentos

Ou então vem cá depressa
Me queira bem à beça
E tira essa compressa

Deixa morrer o vazio
Me afoga no barrio
Quero nadar no teu rio

Antes que tudo faça sentido
Meu grito vire latido
E eu esqueça que tenho sofrido

Chega, mudar de página.