SER
Meu relógio. Não é meu. Eu paguei por ele, uso ele faz tempo. Só que ele, na escência, não é meu. Por uma questão de atitude. Eu uso ele assim, virado ao contrário, de modo que todas as vezes que quero ver as horas olho a palma e não as costas da minha mão. A razão é simples: acho legal. Diferente. Só que ao mesmo tempo, isso não é meu. É apenas um hábito de um antigo colega meu, que fazia o mesmo. Eu copiei.
Meus óculos. Não são meus. Embora apenas eu tenha esses indivíduos estampados no rosto. Mesmo parcelando o pagamento em seis vezes no carnê pago todos os meses com dinheiro saído do meu bolso. Na realidade, eu vi um cara na TV usando esses mesmos óculos. E achei bonito.
Minhas frases. Embora saiam com desenvoltura dos meus dedos e tenham proveniência da minha cachola, também não são minhas. São apenas pedaços de conversas ouvidas ou mesmo proferidas em algum lugar da minha vida real ou imaginária. Pedaços de livros, cartas, contos ou mesmo piadas antigas. Partes de anúncios que são apenas transformados por um espírito que nem mesmo meu é; apenas espelha uma série de preconceitos impostos pela minha obscura passagem neste existir.
Em resumo, isso que tu está vendo não é nada a não ser o retrato de um frankenstein. Eu não sou eu. Eu não me pertenço. Apenas existo porque tu existe, a televisão existe, a cachaça existe. Eu sou recortes de outras vidas privadas que se perderam no caminho e se juntaram em uma moldura vazia. Como todos os que estão aqui. Como tu também.
Somos todos. E somos nenhum.
Meu relógio. Não é meu. Eu paguei por ele, uso ele faz tempo. Só que ele, na escência, não é meu. Por uma questão de atitude. Eu uso ele assim, virado ao contrário, de modo que todas as vezes que quero ver as horas olho a palma e não as costas da minha mão. A razão é simples: acho legal. Diferente. Só que ao mesmo tempo, isso não é meu. É apenas um hábito de um antigo colega meu, que fazia o mesmo. Eu copiei.
Meus óculos. Não são meus. Embora apenas eu tenha esses indivíduos estampados no rosto. Mesmo parcelando o pagamento em seis vezes no carnê pago todos os meses com dinheiro saído do meu bolso. Na realidade, eu vi um cara na TV usando esses mesmos óculos. E achei bonito.
Minhas frases. Embora saiam com desenvoltura dos meus dedos e tenham proveniência da minha cachola, também não são minhas. São apenas pedaços de conversas ouvidas ou mesmo proferidas em algum lugar da minha vida real ou imaginária. Pedaços de livros, cartas, contos ou mesmo piadas antigas. Partes de anúncios que são apenas transformados por um espírito que nem mesmo meu é; apenas espelha uma série de preconceitos impostos pela minha obscura passagem neste existir.
Em resumo, isso que tu está vendo não é nada a não ser o retrato de um frankenstein. Eu não sou eu. Eu não me pertenço. Apenas existo porque tu existe, a televisão existe, a cachaça existe. Eu sou recortes de outras vidas privadas que se perderam no caminho e se juntaram em uma moldura vazia. Como todos os que estão aqui. Como tu também.
Somos todos. E somos nenhum.